
No último dia 8 de outubro aconteceu a abertura da III Mostra Rosa Teatral, que ocorre durante o mês nacional de combate e prevenção do câncer de mama. A programação faz parte da ação do Centro de Artes da UDESC.
Os espetáculos, rodas de conversa, exposições estão marcadas para as terças-feira a noite (18h30 e 19h30). Dia da disciplina de Introdução ao Teatro Feminista, que está em curso neste semestre no programa de Pós-graduação em Teatro da UDESC (PPGT).
Às Profªs. Dras. Maria Brígida e Daiane Dordete recebem artistas da cidade, da região e de outros estados para compartilhar seus processos de pesquisa e criação. O objetivo é valorizar a atuação da mulher em cena e nas artes.
Confira a cobertura da Tribuna Universitária no espetáculo [CELAS] E ELAS que abriu a 3ª Edição da Mostra. A (des)montagem teatral, apresentou relatos de mulheres em situação de cárcere, dados e reflexões sobre processos de privação de liberdade e ressocialização no Brasil.
[CELAS] E ELAS
A agenda feminista, iniciou com uma dramaturgia original sobre mulheres e opressões sociais. O espetáculo ©elas estreou em 2011, realizou diversas apresentações até 2014, e agora se (des)monta a partir das experiências derivadas do projeto “Teatro com mulheres em privação de liberdade”, realizado em 2019 por Daiane Dordete e Samira Sinara com reeducandas do Presídio Regional de Joinville.
Haviam na sala Espaço 1 do DAC (Departamento de Artes Cênicas), cerca de 40 pessoas — capacidade máxima — entre estas, professores, alunos, artistas, fotógrafos, repórteres, pesquisadores e apoiadores do teatro feminista.
Os amplos discursos se disseram “feministas”, e em seu cerne o valor: a distribuição igualitária de direitos (econômicos, políticos, físicos, psicológicos, sexuais, artísticos, etc.) para as mulheres. E foi assim que [CELAS] E ELAS se mostrou, aplicando esse princípio central à agenda.
Os participantes receberam cartas de mulheres em situação prisional — e leram em voz alta, expressões que justificam a necessidade de ações mais políticas e educativas dentro e fora do universo acadêmico.

O teatro feminista narra histórias potentes de mulheres que lutam por suas sobrevivências.
Entrevistamos a Profª. Dra. Daiane Dordete, responsável pela direção, dramaturgia, cenário, figurino, vídeos e iluminação da peça, e veja o que ela nos conta da abertura:
“Tivemos um público bem interessante, e a discussão na roda de conversa foi muito produtiva por nos fornecer vivências em duas cidades distintas, Florianópolis e Joinville. Para nos trazer perspectivas sobre outros processos pedagógicos e de criação. Não só no âmbito do teatro nas prisões, mas também no entendimento do teatro feminista”.
Veja a seguir um pouco da história do teatro feminista, para você chegar no próximo espetáculo com as ideias afiadas e absorver e participar ativamente do debate promovido pela III Mostra Rosa Teatral.
História do teatro feminista
A maneira como estão falando sobre o feminismo no mainstream está ajudando a continuar essa história.
O teatro feminista ganhou maior expressividade na década de 1970 em diversos países, com a reivindicação central do movimento na luta pela “libertação” da mulher. Com ativistas como Caryl Churchill, uma das várias dramaturgas que conscientemente utilizou estratégias e perspectivas feministas em seus escritos e peças são exemplos desse histórico.
Embora, as mulheres estivessem trabalhando para criar teatro muito antes disso, suas muitas contribuições para atuar, escrever, projetar, produzir e dirigir muitas vezes foram negligenciadas, marginalizadas ou vistas como “amadoras”.
Ainda hoje, existem valores culturais dominantes que continuam a privilegiar a criatividade e a expressão dos homens. As ações do teatro político das feministas estão, portanto, são úteis para informar, defender e contar histórias femininas e resistir à marginalização das mulheres.
O teatro feminista também trabalha para desestabilizar o olhar masculino. E minimizar a concepção das perspectivas dos homens, de que as mulheres são objetos a serem consumidos, vistos ou desejados.
Para derrubar essa perspectiva masculina, esse formato de teatro, desafio o conteúdo e a concepção das peças. Em termos de conteúdo, se concentra no seguinte:
- examinar papéis sexuais e de gênero, freqüentemente tentando reverter atos opressores;
- contando histórias de figuras históricas frequentemente ignoradas, mas influentes em suas causas e lutas;
- contando histórias injustas de mulheres que foram oprimidas;
- investigar sistemas críticos de poder que mantêm as mulheres oprimidas;
Estrutura do teatro feminista
Em estruturação, o teatro feminista desafia todos os aspectos do processo de produção, desde estruturas de enredo a processos de elenco e ensaio. Veja algumas características:
- Inclusivo – o teatro feminista permite que muitas vozes intersetoriais façam parte das histórias contadas e durante todo o processo de ensaio;
- Colaborativo – rejeita autoridade hierárquica; diretores de teatro tentam capacitar seus atores pedindo sua contribuição e permitindo que eles façam escolhas de encenação;
- Estruturas narrativas alternativas – tende a rejeitar a narrativa linear, geralmente optando por gráficos abertos, circulares ou episódicos;
- Centrado nas mulheres – coloca personagens femininas no centro da ação, geralmente em elencos de conjuntos, em vez de elencos onde existe um único protagonista claro.
Se interessou? Confira a programação completa aqui.

Informações gerais
Antes das apresentações, você pode conferir a exposição fotográfica “Para além das celas”, de Jéssica Michels, que abriu o evento e permanecerá no hall de entrada da Udesc Ceart até o encerramento.
As imagens são resultado da oficina de teatro realizada com reeducandas do Presídio Regional de Joinville.
Data: 8 a 31 de outubro de 2019.
Local: Centro de Artes da Udesc – Av. Madre Benvenuta, 1907, Itacorubi, Florianópolis/SC.
Realização: Programa de extensão Mulheres em Cena (DAC-CEART-UDESC), Direção de Extensão, Cultura e Comunidade CEART – UDESC e NUDHA – Núcleo de Diversidade, Direitos Humanos e Ações Afirmativas – CEART – UDESC.
Ingressos: Gratuito e aberto à comunidade (distribuição de senhas para espetáculos 30 minutos antes das apresentações, nos locais das mesmas).
Sujeito à lotação (40 lugares).
Classificação indicativa: 16 anos.

Brasileira, graduada em ‘Produção Multimídia‘ pela Universidade Santa Cecília em Santos/SP, com especialização em ‘Fotografia: Práxis e Discurso Fotográfico‘ pela Universidade Estadual de Londrina. É pesquisadora do programa de mestrado em ‘Multimédia‘ da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.